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Professor: a transformação passa por aqui!

Vivência Musical Brasil de Tuhu – Rio Grande (RS)  2017 | Foto: Nauro Júnior

Por Luciana Bento

Educador, docente, mestre, pedagogo, mentor. Ou professor, como é mais conhecido. É ele quem está na ponta, vivenciando o dia-a-dia da sala de aula, transmitindo conhecimentos, percebendo diferenças, estimulando questionamentos, incentivando talentos, encorajando atitudes, levando novidades e… aprendendo com seus alunos.

Mola propulsora da engrenagem educacional de qualquer País, o professor carrega consigo a responsabilidade diária de lidar com micro universos, muitas vezes complexos e diversificados. É um ofício ao mesmo tempo gratificante e desafiador, exaustivo e instigante.

E o que dizer daquele profissional que escolheu a música como objeto de trabalho e estudo? Em um País que (ainda) não assumiu a missão de levar a música a todas as escolas de seu território, sua tarefa torna-se ainda mais necessária e inovadora.

“Quando o professor se compromete com seu ofício e se dispõe a transformar o seu pedacinho de mundo, eu digo que ele passa a ser um educador, que exerce sua função em toda a sua plenitude”, define a educadora Josiane Kevorkian, uma das responsáveis pelas vivências musicais do Brasil de Tuhu.

“Para mim, o que faz a diferença é o envolvimento. O educador não se contenta em passar o conteúdo, ainda que bem dado. Ele quer ir além”, afirma Josiane. “São profissionais que buscam conhecimentos adicionais, se envolvem com as famílias de seus alunos, tentam entender o contexto em que estão atuando, não tem medo de ousar”, diz.

É mais trabalhoso? Sim. Mas tremendamente gratificante, garante a educadora. “É preciso despertar a curiosidade da criança, instigá-la, enfeitiçá-la. E isso não se faz de forma burocrática, é preciso criatividade. Mas dá uma satisfação enorme ver que temos muitos professores assim, de Norte a Sul do País”.

E dá-lhe móveis arrastados pela sala, correria, dança, brincadeiras, desenhos, exercícios de corpo, uso de objetos não convencionais como baldes, cumbucas e colheres de pau e muita cantoria para atrair a atenção e envolver os pequenos.

A educadora Darlete Morgado acredita nesta diversidade de atividades para capturar a atenção dos alunos. Ela trabalha com música há quase 20 anos e dá aulas em dois colégios da rede privada de Santo André, São Paulo.

“Tenho feito diversos cursos, vivências e workshops e percebo que algumas destas formações olham a música como mera recreação, o que não é o nosso foco”, conta. “Quando a atividade é elaborada pensando na criança, ela participa, se concentra, demonstra interesse. Não é necessário criar adereços visuais ou outros recursos para chamar a atenção. Quando o conteúdo tem um propósito explícito, coerente e conciso, o resultado é visível e imediato”, avalia.

Dedicação e superação

Muito já foi debatido e denunciado sobre a falta de incentivos e ferramentas para a implementação do ensino de música nas escolas brasileiras (leia as matérias “Ensino de música nas escolas: ontem e hoje”, “Métodos diversos, objetivos comuns” e “Música como formação cidadã de crianças e jovens”, artigo da professora Malvina Tuttmann).

Da falta de professores especializados à inexistência de instrumentos musicais para os alunos, passando pelos espaços inadequados e falta de regulamentação da lei aprovada em 2008, muitas são as dificuldades enfrentadas pelos professores – sobretudo os da rede pública.

“Eles são verdadeiros desbravadores”, resume Josiane Kevorkian. “Muitos sequer têm formação em música, mas buscam se informar, se qualificar, se capacitar, se reciclar. Se isso não é comprometimento do professor, eu não sei o que é”, provoca.

É o caso de Teresa Santos, professora de Educação Física, que estuda música há quase 30 anos. Ela trabalha na Diretoria de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Guarujá (SP) e é responsável por replicar a formação que recebeu nas vivências a educadoras que desenvolvem musicalização em creches municipais.

“Por estar com restrição médica, em 2015 fui deslocada para uma creche onde desenvolvi um trabalho com música na primeira infância (crianças de 0 a 3anos). Embora não tenha formação musical acadêmica, busco me atualizar sempre e, como atuo na área há bastante tempo, pude aplicar o que já conhecia com os pequenos. E agora, mesmo longe da sala de aula, compartilho minha experiência com outros educadores”, conta.

Para aqueles que não estão na rede formal de ensino, a realidade não é diferente. A educadora Luciana Lima, do Rio Grande (RS), trabalha em um projeto social com adolescentes entre 14 e 16 anos, moradores da periferia da cidade. “São jovens que não tiveram oportunidade de ter contato com a música na infância. Um dos meus maiores desafios é trazer à tona a espontaneidade deles, algo que vai se perdendo com a idade, infelizmente”, diz.

“Mas vejo que aos poucos eles vão tendo mais segurança, aguçando a sensibilidade… Trabalho muito com a música na perspectiva da transformação, de si próprio e do seu entorno. E respeitar o que estes jovens ouvem e cantam, mesmo que seja diferente do que eu ouço e canto normalmente, é uma premissa básica”, explica a educadora.

Acolher a realidade do aluno e compreender o  seu universo, para além da sala de aula. Compartilhar conhecimentos e disseminar informações, de forma ampla e generosa. Colocar os aprendizados em prática, de acordo com a realidade de cada um. Com pequenas atitudes, o educador gera grandes mudanças.

“A música transforma – não só o indivíduo, mas o País. Eu acredito nisso e trabalho diariamente para que o Brasil seja 100% musicalizado. É um sonho ousado, que parece impossível. Mas se você trabalhar localmente, mudando a realidade em que está inserido, já é uma grande coisa”, finaliza Josiane Kevorkian.

 

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