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Pequenos músicos, grandes aprendizados

Por Luciana Bento*

No meio da sala, o piano infantil tocado por um adulto, ganha a atenção de olhinhos curiosos que vibram a cada nova nota. Ali ao lado, quase ao mesmo tempo, uma barriga vira tambor. Na sequência, uma flauta pia como passarinho. Sons feitos com a boca se transformam no coaxar de sapos e zumbidos de abelhas.

Neste ambiente, onde sons inusitados brotam sem parar, quem sequer começou a falar cantarola músicas inventadas, com melodias e linguagem próprias. Ali, não há jeito certo para se expressar musicalmente. O que vale é o prazer e a alegria no contato com timbres, acordes e batuques.

Bem-vindo a uma aula de musicalização de bebês e crianças!

Ué, mas bebês já podem ter aulas? Por que pais e mães optam por inserir tão cedo a música, de maneira sistemática, no cotidiano de seus filhos? Não basta o contato com a boa música dentro de casa? O gosto musical dos pais não seria o suficiente para influenciar os pequenos? Presentear os filhos com instrumentos infantis já não desperta o suficiente a curiosidade das crianças para o universo musical?

Todas estas ações, reproduzidas no ambiente familiar, fazem (sim!) a diferença no desenvolvimento infantil, dizem especialistas, e são reconhecidas como “musicalização informal”. São absolutamente recomendáveis mas não substituem a atividade conduzida por um educador, apropriada para cada faixa etária e incluída na rotina da criança.

Que o diga Ellen Carvalho, mãe em tempo integral de três filhos que fazem musicalização desde cedo. A mais velha, Manoela, de 06 anos, faz aulas de flauta e os dois menores (Joaquim, de 03 anos, e Helena, de 01 ano) fazem parte de um grupo que acontece uma vez por semana na casa de Ellen.

“Como as crianças são muito pequenas, os adultos acabam subestimando a capacidade delas de reagir, interagir e se desenvolver a partir da música”, diz. “Meu marido é músico amador, sempre canta e toca pros nossos filhos, mas não tenho dúvidas de que o trabalho desenvolvido por um bom educador, que sabe aguçar a curiosidade da criança de acordo com a idade, faz toda a diferença”.

No caso dos filhos de Ellen, a profissional responsável pelo encantamento dos pequenos é Bebel Nicioli, idealizadora do projeto Brincadeiras Musicais, que acontece no Rio de Janeiro. Nascida em uma família de músicos – sua avó, a francesa radicada no Brasil Odette Ernest Dias é uma das maiores flautistas do País – ela própria iniciou seus estudos em flauta aos cinco anos.

“Eu prefiro não falar em musicalização, pois me remete a algo mais ortodoxo. Acho melhor falar em experimentação lúdica com a música”, explica. “As atividades que desenvolvemos são muito prazerosas, é nítido como as crianças ficam felizes e se emocionam com este contato”.

As aulas de Bebel, que também faz parte do grupo musical voltado para o público infantil “Farra dos Brinquedos”, são recheadas de elementos cênicos, histórias e interações com instrumentos – tudo para estimular e envolver as crianças no universo musical.

Universo, aliás, é uma boa palavra para ilustrar as infinitas possibilidades à disposição dos adultos nesta interação musical com os pequenos. Apresentar às crianças a maior diversidade possível de sons, ritmos e estilos não só amplia a sua percepção e sensibilidade para a música como incentiva o respeito por outras culturas e formas de olhar (e celebrar) a vida.

Benefícios claros

Tranquilidade. Sociabilidade. Melhora na comunicação. Maior expressividade. Mais atenção. Aumento do vínculo com os pais. Desenvolvimento da coordenação motora. Estímulo à criatividade.

É grande a lista de benefícios apontados por pais e educadores que optaram pelo contato de seus filhos com a música já na primeira infância. “Minha filha de quatro anos canta o dia todo. Ela se expressa pela música, é uma linguagem que faz sentido para ela, que ela se apropria, brinca, se comunica”, conta a consultora em educação Laís Fleury.

As duas filhas de Laís (Alícia, de 04 anos, e Lia, de 02 anos) frequentam aulas de musicalização desde bebês e a mãe nem pensa em suspender as atividades. “A música traz desafios gostosos, as meninas convivem com outras crianças em um ambiente saudável, alegre, lúdico”, avalia.

Os benefícios percebidos por Laís são corroborados por estudos e pesquisas que comprovam que a música promove estímulos motores e induz o movimento (que faz, por exemplo, com que as pessoas tenham vontade de se mexer quando ouvem música).

Ela também promove alterações fisiológicas no nosso corpo (acelera ou diminui a frequência cardíaca, interfere no fluxo respiratório etc) e, claro, evoca emoções. Não é à toa que as trilhas sonoras são parte importantíssima dos filmes: despertam sentimentos, ficam na memória e “casam” perfeitamente com as cenas mais impactantes. Bobagem pensar que apenas os adultos são tocados por elas.

“É uma atividade muito completa, que gera benefícios diretos e indiretos”, reforça a professora Aline Romero, proprietária da Baby Arts, escola de música especializada em primeira infância, com sede em São Paulo. “Um dos mais visíveis é a sociabilidade, já que a aula de música é uma excelente introdução da criança em atividades em grupo. Ali ela começa a perceber que existem regras de convivência, a respeitar o espaço do outro, a interagir de forma suave, lúdica…”.

Outro efeito apontado por especialistas é o estreitamento da relação entre pais (ou adultos que tenham vínculos com a criança) e filhos – lembrando que a vida moderna e os compromissos profissionais dos pais muitas vezes exigem que crianças a partir de um ano e meio sejam colocadas em creches.

“Neste sentido, as aulas de música são uma oportunidade de ouro para intensificar o vínculo familiar. Em nossas aulas os adultos familiares são especialmente bem-vindos. Fazemos questão de trabalhar com esta interação e incentivá-los a acompanhar o crescimento e desenvolvimento das crianças”, reforça Aline.

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