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O estudo da partitura traduzido em Braille

*Por Usina da Comunicação

A entrevistada desta edição é Dolores Tomé, flautista licenciada em Educação Musical pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em Ciências da Educação e doutoranda em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais (ICPD), pela Universidade do Porto.

Dolores foi coordenadora de Musicografia Braille e por muitos anos da Escola de Música de Brasília e diretora de Cultura Inclusiva da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal. Filha de João Tomé, músico cego, com quem aprendeu as primeiras noções do Braille e referência no Brasil, quando o assunto é a Musicografia Braille alinhada com a Educação.

Musicografia Braille ou código musical Braille. É um código Braille voltado para notação musical, o sistema de escrita musical. O código permite ao cego, assim como na partitura, definir a notação universalmente através das marcações de células com ponto em alto relevo, característico do Braille. Permite ao músico cego ensinar, compor, interpretar e aprender através de uma notação padrão.

Junto com José Antonio dos Santos Borges e Moacyr de Paula Rodrigues Moreno, Dolores Tomé é autora do software Musibraille, uma plataforma voltada para educação musical visando os deficientes visuais. Esse software pode ser copiado e distribuído livremente, seguindo a forma de licenciamento de software livre conhecida como LGPL, sendo proibida a venda do mesmo.

Para fazer o download gratuito do software acesse http://intervox.nce.ufrj.br/musibraille/download.htm

Selecionamos uma serie de perguntas sobre o assunto, que vocês podem conferir na entrevista com Dolores Tomé.

BRASIL DE TUHU – Como você define o projeto Musibraille? 

 DOLORES TOMÉ O projeto Musibraille destina-se a criar condições favoráveis à aprendizagem musical das pessoas com deficiência visual. Sendo assim, os deficientes têm condições equivalentes às dos colegas de visão normal no processo de aprendizagem. Os objetivos do projeto são: capacitar professores de educação musical das escolas de nível fundamental e médio para trabalharem com cegos. Desta forma, os alunos cegos que estiverem matriculados em classe regular podem ter um aproveitamento mais efetivo e uma maior integração; propiciar o desenvolvimento da autonomia e elevar a independência do cego músico. O executante tem sua situação melhorada pela possibilidade de transcrição automatizada de textos musicais a partir de papel. O compositor ou arranjador cego também é beneficiado, na medida em que suas obras podem ser geradas de forma bimodal (em Braille e em tinta), sendo consumidas também por músicos que não dominem a técnica Braille, além de melhorar e ampliar as oportunidades dos cegos músicos no mercado de trabalho, incluindo aí a atividade de ensino de música, em suas múltiplas vertentes. Em outras palavras, inclusão social é importante resultante do projeto.

TUHU – Quem teve a ideia do projeto Musibraille ? Quando começou?

 DOLORES Eu  e José Antônio Borges do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor do sistema Braille Fácil. Por uma feliz e produtiva parceria eu e José Antônio desenvolvemos o projeto Musibraille iniciado em 2005, mas só pudemos lançar a primeira versão do software, que foi a transcrição de partituras para o Braille, em 2009. De 2005 a 2009 foi um período de testes do software até começar efetivamente em 2009 o software e o projeto.

O software Musibraille é o braço principal do projeto que também se chama Musibraille.

TUHU – O Musibraille é uma realidade no Brasil? Ou ainda está em uma fase embrionária?

DOLORES O Musibraille é uma realidade no Brasil, sendo usado por muitas pessoas cegas e professores de música, e estamos avançando cada vez mais. O deficiente, para ser músico, tem que saber Musicografia Braille, que sempre existiu, até porque quem o inventou foi Louis Braille (1809-1852), que era cego e também músico. O software (Musibraille) é gratuito e também usado em Portugal e países vizinhos da América do Sul.

TUHU – Quantos alunos deficientes foram incluídos na música por meio deste projeto? O projeto ocorre em nível nacional?

DOLORES No primeiro ano de lançamento conseguimos ir em uma capital de cada região do Brasil: Centro Oeste (Brasília), Nordeste (Recife), Norte (Belém), Sudeste (Rio de Janeiro), Sul (Porto Alegre). Aproximadamente 100 pessoas capacitadas de cada região, então, no primeiro ano, 2009, conseguimos atingir 500 pessoas. Nos anos seguinte, levamos para São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), São João del Rei (MG), Aracaju (SE). Em 2011 fomos até Portugal, às cidades de Lisboa, Vidigueira, Cuba (ambas no Alentejo) e Braga, no norte do país.

TUHU – A Musicografia Braille é a única forma existente para a inclusão do deficiente visual à música? Ou existem outras?

 DOLORES A Musicografia Braille é o mesmo que a partitura para as pessoas que veem. O sistema de Musicografia Braille foi inventado pelo próprio Louis Braille, como foi mencionado anteriormente. Acho que é um mito erradíssimo as pessoas pensarem que os cegos têm bom ouvido e, por isso, o ensino tem de ser através do ouvido e não pela musicografia. A Musicografia Braille ainda é um sistema moderníssimo, mesmo hoje.

TUHU – A música abre portas aos deficientes que praticam as aulas de música inclusivas? Alguns seguem carreiras profissionais?

 DOLORES A música abre portas para todos que a praticam, que gostam e, principalmente, para os que estudam com professores qualificados, como deve ser. A única condição diferente para o aluno cego é a obtenção das mesmas ferramentas das pessoas de visão normal. Ou seja, livros teóricos em Braille, partituras em Braille, que usem uma plataforma digital para agilização do material impresso nas mesmas condições dos demais. Quanto a seguir carreira profissional, dependerá do aluno no aprendizado, talento e um pouco de sorte como qualquer outra pessoa.

TUHU – Como é seu envolvimento no trabalho da inclusão do deficiente visual com a música?

DOLORES Passei vinte anos dando aula de iniciação em Musicografia Braille na Escola de Música de Brasília. Assim que os alunos cegos obtinham noções básicas da Musicografia Braille iam para as aulas regulares e apenas recebiam o material impresso em Braille, faziam as anotações em Braille. E para correção dos exercícios os próprios alunos liam para os professores.

TUHU – Há muitos trabalhos, pelo Brasil, de inclusão do deficiente através da música, ou falta muita coisa?

 DOLORES O que falta não são trabalhos e sim a inclusão na promoção da infocomunicação de plataformas digitais de Musicografia Braille. O fato de haver plataforma de ensino de “musicografia” tem de estar intimamente ligada a uma posterior partilha de recolha de partituras. Porque sem partituras os músicos não existem!

 

 

 

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