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Por uma música mais inclusiva

*Por Baluarte Cultura e Usina da Comunicação

A luta pelos direitos da pessoa com deficiência vem ganhando espaço na agenda musical. E, ainda que seja necessário avançar muito mais, alguns projetos de inclusão já começam a surgir. A quebra de paradigmas de que um cego não pode tocar piano ou de que um surdo não será um bom percussionista torna-se aos poucos realidade.

Exemplo disso é o Projeto Guri que em 2010 passou a oferecer aulas inclusivas. Realizado desde 1995, o projeto oferece aulas como canto coral, instrumentos de cordas dedilhadas, sopro e iniciação musical, entre muitas outras, para crianças e adolescentes de 06 a 18 anos em São Paulo. E foi quando os primeiros alunos com deficiência começaram a frequentar as aulas que o projeto sentiu a necessidade de aprofundar seus conhecimentos e ampliar o atendimento aos alunos e funcionários com deficiência em todos os seus pólos.

Para isso, eles contaram com a consultoria da instituição Mais Diferenças, OSCIP fundada em 2005 que tem como foco de atuação a inclusão de pessoas com deficiência no que se refere à Educação e Cultura. Ao longo de 09 anos de atuação, a Mais Diferenças já envolveu mais de 90 mil pessoas em ações interdisciplinares de produção e elaboração coletiva de saberes e práticas que visam à equiparação de oportunidades e a construção da autonomia das pessoas com deficiência.

A partir da parceria, o Projeto Guri estabeleceu suas novas diretrizes, todas baseadas na Lei sobre os direitos da pessoa com deficiência (Nº 7.853 de 1989) que determina, por exemplo, o direito de igualdade do tratamento e da oportunidade aos deficientes.

Para colocar em prática o que havia sido definido no papel, o projeto realizou um programa de capacitação interna que permitiu um conhecimento maior de seus profissionais em técnicas como o Braille, metodologia utilizada para a leitura de deficientes visuais, e a Linguagem Brasileira de Sinais – Libras, linguagem utilizada para a comunicação de deficientes auditivos. Além de terem incluído na orientação dos profissionais cartilhas com atividades e jogos para auxiliar os educadores na inclusão entre pessoas com e sem deficiência e a criação de uma rede interna de apoio, que serviu para o esclarecimento de dúvidas sobre inclusão e acessibilidade.

Como complemento da preparação,os educadores passaram por vivências e visitações de aprofundamento na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE e Associação de Assistência à Criança Deficiente – AACD. Durante esse processo os visitantes puderam conhecer um pouco melhor sobre alguns dos acessórios utilizados por quem possui deficiência, como a cadeira de rodas e muletas. Além disso, anualmente são organizados seminários com assuntos pertinentes ao dia a dia de professores e alunos, como, por exemplo, o de 2014 que teve a inclusão como tema.

E as ações vão muito além da sala de aula. Segundo a assistente técnica de Desenvolvimento Social do Projeto Guri, Roberta Martinez, cada caso é analisado individualmente. “A equipe conversa com os familiares, procura saber sobre o histórico de cada aluno para então, se tiver necessidade, encaminhá-lo para as instituições competentes ou profissionais parceiros”.

Martinez comenta que para o primeiro semestre de 2015 serão oferecidos livros didáticos de percussão, violão e coral, todos em braille. No mesmo ano, há uma expectativa que se faça uma nova capacitação com os educadores utilizando o Musibraille, o primeiro software da língua portuguesa que oferece condições favoráveis de aprendizagem musical aos deficientes visuais.

As inscrições para as aulas de música abrem a cada semestre e o aluno deve comprovar que está matriculado no ensino regular. O aluno só fará teste de nivelamento ao passar de turma, no fim de cada período. As aulas são coletivas e para os alunos deficientes são oferecidos os instrumentos adaptados.

Atualmente, o Projeto Guri oferece 28 cursos de música em 370 polos distribuídos em 316 municípios. Ao todo, 453 alunos são declarados com alguma deficiência, a maior parte deles classificados como deficientes intelectuais, seguidos pelos deficientes físicos, pelos que possuem Síndrome de Down, TEA – Transtorno de Espectro Autista e os visuais.

Projeto Guri: http://www.projetoguri.org.br/

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